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Depois de tanto tempo viajando pela Europa, contando com o conforto da maioria dos campings europeus, era chegada a hora de decidir se iríamos conhecer o Marrocos ou não. Confesso que ficamos com certa preguiça de sair da Europa e cruzar o estreito de Gibraltar em direção a esse país africano do qual poucas informações tínhamos. Será que encontraríamos lugares para ficar? Mesmo encontrando, como seria a estrutura desses lugares? Teria ao menos banho quente?

Em nossa cabeça, por ser um país pobre do continente africano, iríamos passar muito perrengue e começou a bater um desânimo. Somado a isso, o ferry marítimo para cruzar da Espanha para Marrocos não era barato e ficamos vários dias ponderando se deveríamos desistir. No fim, chegamos à conclusão de que tínhamos que ir, pois seria a nossa única experiência no continente africano nessa viagem e não deveríamos perder por medo de alguns banhos gelados rs.

Compramos nossa passagem de barco e seguimos rumo ao total desconhecido para nós. E junto com a gente, uma multidão de motorhomes europeus, principalmente franceses. Para nós foi uma grande surpresa e alívio, pois não estaríamos nessa empreitada sozinhos.

Aliás, é surpreendente o número de motorhome europeu circulando por Marrocos. São muitos mesmo. No país eles falam árabe e francês e acredito que pela facilidade da língua, dos preços baixos e das temperaturas altas, o país é lotado de viajantes franceses. Podemos dizer sem medo de errar que cerca de 90% dos motorhomes que cruzamos eram da França.

A travessia foi tranquila, os trâmites de aduana foram todos feitos dentro do navio. Quando chegamos no Marrocos, rapidamente já estávamos dirigindo o Chulé pelas suas estradas e suspirando pelas paisagens incríveis que fomos encontrando pelo caminho.

Em razão do grande número de turistas que visitam o país de carro, os hotéis se adaptaram para recebe-los e criaram uma área de camping adjunta ao hotel. A estrutura do camping é mínima, com banheiros de limpeza duvidosa, mas com chuveiros quentes. O legal mesmo é a possibilidade de usar a estrutura do hotel, que geralmente é boa, com piscinas, restaurante e até wifi (sem nenhum custo adicional).

Foi infinitamente mais fácil do que tínhamos imaginado. Além disso, os locais eram muito gentis e amigáveis por quase todos os lugares por onde passamos. Esse foi um diferencial muito expressivo para nós. Depois de tanto tempo na Europa, já estávamos acostumados a viver no nosso espaço e a interagir o mínimo necessário com os europeus (claro que sempre tem sua exceção, mas a regra geral é cada um no seu quadrado rs). Quando chegamos no país e encontramos pessoas alegres, abertas e dispostas a bater papo, foi uma alegria só. Acho que eu (Naty) nunca conversei tanto com outras pessoas (incluindo viajantes) como no Marrocos.

Um pouco antes de chegar no Saara, paramos em um camping que ficava numa região de beleza indescritível. Era uma cadeia de montanhas incrível no fundo e no vale passava um rio de água transparente, formando um oásis nas margens, onde vimos várias plantações de oliveiras e tâmaras. Mesmo assim, quando andávamos na margem do rio, pisávamos num solo todo rachado em razão do clima seco e desértico do lugar. Isso me impressionou bastante, um chão tão seco e aparentemente sem vida, que trinca a cada pisada, e mesmo assim dali nascem plantinhas rasteiras, flores, oliveiras e até grandes tâmaras.

Enfim, devaneios à parte, estávamos felizes de ter encontrado um lugar para ficar com aquela paisagem logo atrás da nossa barraca. O lugar parecia um sonho, de tão lindo. Tanto que não resistimos e passamos outro dia lá, só para poder explorar a região com mais tempo e contemplar aquela beleza toda sem correria.

Enquanto estávamos parando o Chulé e abrindo a barraca, o dono do camping, o Salan, se aproximou de nós e começou a conversar. Ele estava impressionado por sermos brasileiros e estarmos ali, tão longe de casa. Segundo ele, era a primeira vez que parava alguém do Brasil em seu camping. O legal é que ele falava português fluente e a conversa foi muito mais gostosa!

Depois de conversarmos um pouco, o Salan nos convidou para jantar em seu restaurante aquela noite. Seríamos seus convidados de honra. Ficamos desconcertados e tentamos recusar o convite, mas ele insistiu que queria nos oferecer esse jantar especial: o prato seria cuscuz marroquino. Marcamos o horário e faltando 5 minutos para a hora combinada nós estávamos lá, sem saber bem como seria essa experiência.

O Salan vestia a roupa típica do povo berbere, que vive na região, e um turbante na cabeça. Era uma vestimenta bonita. Tiramos uma foto com ele, mas depois quando fomos olhar percebemos que ela tinha ficado meio tremida. Que pena.

O jantar foi maravilhoso, nunca tínhamos comido um cuscuz marroquino tão saboroso. Nos sentimos em casa e ficamos muito felizes de ter aceitado o convite. No segundo dia que ficamos no camping ainda conversamos muitas vezes com o Salan e ele nos tratou a todo momento com muita gentileza.

Num fim de tarde, eu (Naty) estava acessando a internet na entrada do restaurante, numa mesinha do lado de fora, e ele pediu que um dos seus funcionários me servisse chá de menta e amendoim como aperitivo. É uma tradição da região tomar chá de menta no final do dia. Não sou muito fã de chá, e o de menta me lembrou pasta de dente, mas não dá para não tomar depois de um gesto desses. Falei para o Dani ir buscar o Cris e ele me deu uma ajudinha com o chá e o amendoim rsrs.

Nunca esqueceremos o Salan e o que fez por nós, não apenas nos oferecendo um jantar típico do seu país, mas principalmente por nos permitir viver de perto um pouquinho da sua cultura e modo de viver. Isso não tem preço.

Natany Gomes

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