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O que nos faz feliz? Essa é uma questão que nos acompanha desde que saímos de casa. Que viajar sempre foi motivo de felicidade para nós, não havia nenhuma dúvida, mas seria assim também numa viagem tão longa e com poucos recursos como a que fazemos?

Percebemos que nem todo viajante pelo mundo é igual ou possui as mesmas aspirações, cada um tem seu próprio ritmo, estilo e encontra sua felicidade de um modo diferente. Já cruzamos com pessoas que viajam usando os mais variados meios de transporte: a pé, de bicicleta, de carona, de moto, de carro e até de caminhão, e a grande maioria está satisfeito com o meio que escolheu. Alguns almejam conhecer o máximo de lugares num mínimo de tempo, visitando mais de uma cidade por dia, ao passo que outros passam semanas, às vezes até meses parados no mesmo lugar.

Quando saímos de casa, nós ainda não sabíamos qual seria o nosso perfil, tínhamos apenas uma vaga ideia do que seria a vida de viajar e desbravar o mundo de carro. Só começamos a entender o que isso realmente significava quando passamos a viver o dia a dia da viagem.

Tudo parece muito mais simples na teoria, mas é quando você está com fome, no meio do nada, e o fogão simplesmente não liga, que você descobre que muitas coisas podem dar errado (e algumas irão dar). É quando você está cansado de um dia inteiro de estrada, com chuva, faltando poucos quilômetros para chegar no camping e uma barreira cai no seu caminho, te obrigando a voltar 400 quilômetros para pegar um caminho alternativo, que você percebe que teoria e realidade nem sempre caminham juntas.

Começamos a viagem querendo abraçar o mundo todo num curto espaço de tempo, e para isso teríamos que viajar praticamente todos os dias para dar conta. Não preciso nem dizer o tamanho do stress que isso gerou e quantas oportunidades legais perdemos, porque não podíamos ficar mais um dia para não atrasar o nosso cronograma.

Perdemos a chance de jantar com um casal de viajantes muito legais que encontramos em El Calafate, porque simplesmente tínhamos que seguir aquele dia. Fui embora com um nó no estômago e uma tristeza tão grande, o que indicava que alguma coisa estava errada nesse ritmo inicial que estabelecemos. Numa outra situação, conhecemos uma família suíça próximo a Bariloche com um filhinho da idade do Dani. Embora os dois não falassem uma palavra sequer na mesma língua, brincaram e se divertiram na beira de um lago como se fossem amigos de longa data. O Dani implorou para ficarmos mais um dia, a família suíça também, mas seguimos mesmo assim, com o coração partido ao ver nosso filho chorar. Acabamos nos arrependendo e voltando, mas a família suíça já tinha ido embora. O Dani fala do Max (o amiguinho suíço) até hoje.

Começamos a nos dar conta de que conhecer o mundo era muito mais do que conhecer milhões de lugares e muitas vezes nem se conectar de verdade com nenhum deles. Embora ainda estivéssemos no começo da viagem, já tínhamos dificuldade de identificar onde algumas fotos tinham sido tiradas. Estávamos colecionando lugares, mas não momentos, não experiências. Claramente não era isso que nos fazia feliz.

Já estávamos desacelerando e priorizando lugares quando chegamos num camping no Peru, já na fronteira com o Equador. Íamos apenas passar a noite para cruzar a fronteira no dia seguinte, mas gostamos tanto do lugar que acabamos ficando 4 dias. Conhecemos muitas pessoas, mas um casal australiano em particular teve um papel muito importante naquele momento, compartilhando conosco sua experiência de longos anos de estrada.

Descobrimos o nosso ritmo e o que realmente gostávamos de fazer na viagem e começamos a viajar melhor daí para frente. Mas outras questões ainda precisavam de ajuste.

Fazer camping selvagem não era algo muito natural para nós. Por mais que eu quisesse economizar para manter o orçamento sob controle, sempre que acampávamos em lugares gratuitos, como praias, lagos, postos de gasolina e paradas da estrada, nós nunca dormíamos bem, pois sempre estávamos preocupados com a nossa segurança. Eu costumava ter pesadelo de que alguém vinha nos assaltar no meio da noite. Quando dormíamos em posto de gasolina essa preocupação não existia, mas o barulho de caminhões entrando e saindo a noite toda não nos deixava descansar de verdade. No dia seguinte, sempre estávamos cansados, irritados e não conseguíamos aproveitar muita coisa. Na Europa chegamos a ser acordados pela polícia no meio da madrugada, porque estávamos dormindo em local proibido.

O desejo de economizar era grande, mas acabamos abrindo mão dele em troca de dias mais felizes, mesmo que isso significasse que teríamos que viajar menos tempo. Nossa última noite de camping selvagem foi na Grécia, numa praia, e desde então sempre procuramos um camping para ficar. Continuamos abertos a um ou outro camping selvagem, desde que isso signifique estarmos num lugar adequado para isso, de preferência com outros viajantes (o que é muito difícil na Europa).

Além disso, estamos abertos a convites de pessoas que queiram nos receber em sua casa por um ou dois dias. Não é algo muito natural para nós e sempre ficamos um pouco temerosos de incomodar, mas as poucas oportunidades que tivemos na viagem foram muito positivas e nos trouxeram experiências especiais que nunca mais esqueceremos.

Na verdade, cada experiência vivida ao longo desse ano foi nos mostrando o que realmente nos faz feliz na estrada. Ficou claro para nós que gostamos de viajar devagarzinho, conhecendo sem pressa cada lugar, tendo tempo para nós mesmos e para Deus, dormindo e comendo bem, estando abertos a conhecer outras pessoas do local ou mesmo outros viajantes como nós e, tudo isso, de preferência, gastando pouco dinheiro! Essa é a nossa fórmula da felicidade. E você, o que te faz feliz?

Natany Gomes

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