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Depois de exatos 40 dias, enfim recebemos a notícia de que o Chulé estava pronto!

Estávamos numa ansiedade enorme para pegá-lo logo e retornar a viagem de carro e começamos a nos organizar para voltar para a Itália para buscá-lo. Quando eu (Naty) voltei do Brasil, alugamos um carro em Milão e fomos conhecer a região do Mont Blanc, entre França, Suíça e Itália. Agora precisávamos voltar para Milão, devolver o carro e pegar um ônibus até Siena, onde o Chulé tinha ficado todo esse tempo sendo consertado.

Entre a cidade que estávamos e Milão era uma viagem de 3 horas mais ou menos, mas com pedágios muito caros no caminho. Tínhamos que passar por um túnel que cobrava 45 euros e mais todo o pedágio do restante do caminho, que dava em torno de 50 euros.

Achamos muito pesado pagar quase 100 euros só de pedágio por uma viagem de apenas 3 horas e resolvemos que iríamos utilizar as estradas alternativas não pedagiadas. Nossa viagem ia aumentar para 6 horas, mas o dia estava lindo e iríamos viajar por vilarejos pitorescos, cheios de neve e paisagens bonitinhas, e não nos incomodamos nem um pouco pelas horas extras, pois na verdade estaríamos passeando antes de chegar em Milão.

Nesse pensamento, a viagem correu bem nas três primeiras horas. Passamos por cada cidadezinha mais linda do que a outra. Era muito legal ver todas as casinhas cheias de neve no telhado, às vezes uma neve bem grossa que chegava a quase um metro de espessura. Ficávamos nos perguntando se aquele peso extra nos telhados não seria prejudicial para as casas, mas imaginamos que eles já foram feitos para aguentar.

Passamos por vários centros de esqui, e para todo lado que olhávamos sempre tinha um teleférico e pessoas esquiando montanha abaixo. Essas três primeiras horas da viagem foram realmente sensacionais. Apesar do GPS insistir em mudar o caminho a todo momento e nos mandar pela estrada pedagiada (o que estava irritando um pouquinho), estávamos gostando tanto do passeio, que apenas reprogramávamos o GPS de novo e seguíamos em frente.

Na nossa cabeça, o GPS apenas queria que fizéssemos o caminho mais curto e a cada nova sugestão de dar meia volta, nós o ignorávamos por completo. Foi apenas depois de subir uma serra longa e sinuosa em direção à cidade de La Rosière, de onde continuaria a estrada, que descobrimos o porquê da insistência do GPS: fomos parar num beco sem saída, a estrada havia se transformado num amontoado de gelo onde diversas pessoas estavam esquiando.

Não teria jeito, depois de três horas na estrada, íamos ter que voltar todo o caminho e viajar pela pedagiada. Nossa viagem de 6 horas agora havia se transformado em uma longa jornada de 9 horas, gastando muito mais combustível e pagando os 95 euros que tanto tentamos evitar. Que grande tristeza!

O pior é que tínhamos que entregar o carro nesse mesmo dia e a locadora fechava às 21 horas. Nossos planos iniciais eram que o Cris me deixaria com o Dani e as malas no hotel primeiro e depois iria entregar o carro sozinho, mas em razão do horário apertado, todos tivemos que ir para o aeroporto fazer a devolução.

Chegamos em Milão debaixo de uma forte neblina e era impossível enxergar mais do que 10 metros adiante. Vários carros estavam parados no acostamento em razão da baixíssima visibilidade, mas nós não tínhamos tempo para parar, tivemos que encarar a estrada daquele jeito mesmo. Ficávamos olhando no GPS para ver se tinha alguma curva no caminho, mas felizmente a estrada era uma grande reta. Dirigíamos neblina a dentro sem enxergar praticamente nada e confiando que o GPS estava certo. Já em Milão, foi bem complicado encontrar a locadora por causa da neblina, e tivemos que dar várias voltas até acertar o lugar. Chegamos em cima da hora, mas graças a Deus deu tempo.  

Carro entregue, pegamos as nossas malas pesadas, com todas as coisas que eu tinha trazido do Brasil, e fomos para a estação de trem. Estávamos carregando aquelas malas de trekking nas costas, mais uma mochila na frente e mais uma mala de rodinha grande, além de algumas sacolas soltas. Fora o peso, a quantidade de bagagem era extremamente desconfortável para se carregar.

Estávamos exaustos, já passava das 21 horas e para a nossa tristeza, descobrimos que o bilhete do trem era caríssimo, mais 32 euros por pessoa (e até o Dani pagou). Mais um prejuízo para a conta, pois se não tivéssemos chegado tarde, só o Cris teria que pegar esse trem.

Tem dia que as coisas não dão muito certo mesmo, e estávamos prestes a viver uma sucessão de eventos malsucedidos.

Chegamos no hotel perto das 23 horas e nosso ônibus para Siena sairia no dia seguinte bem cedinho. Aquele dia tinha nos deixado muito cansados e irritados, e ponderamos se não seria melhor trocar as nossas passagens para outro dia para podermos descansar um pouco. Entramos no site da companhia do ônibus e vimos que dava para trocar, pagando uma multa de 15 euros. Mais um prejuízo.

Nessa hora já não estávamos mais pensando direito e resolvemos trocar a passagem, apesar dos 15 euros de multa. Acordamos no dia seguinte mais descansados e menos irritados, abriu um sol lindo e tivemos um dia muito legal na cidade. No dia seguinte acordamos tranquilos, tomamos café da manhã e fomos para a rodoviária pegar o nosso ônibus, que saía às 9 horas.

No caminho, o Cris começou a se questionar se tinha comprado a passagem para a data certa e percebeu que tinha se enganado. Não tínhamos um centavo na carteira e precisaríamos comprar a passagem de novo se quiséssemos ir para Siena naquele dia. Chegamos na rodoviária às 8h30min e o Cris resolveu sair em busca de um caixa eletrônico para sacar dinheiro. Estávamos muito chateados e irritados com mais essa despesa inesperada, como fomos comprar a passagem errada? Isso que dá fazer as coisas cansado ou irritado, sempre sai alguma coisa errada.

Fiquei com o Dani e as malas, e o Cris saiu correndo atrás de um caixa eletrônico. Não queríamos perder o ônibus, o outro só saía de noite. Foi inevitável ficar pensando na quantidade de coisas que tinham dado errado nos últimos dias e o quanto isso nos custou financeiramente. Somado a tudo isso, estávamos indo para Siena buscar o carro e deixar mais uma grande quantidade de dinheiro lá, o que diminuiria significativamente o tempo da nossa viagem. Bateu uma angústia, uma sensação de impotência. Por que todas essas coisas estavam acontecendo? Parece que quando alguma coisa dá errado, todas as outras desmoronam num efeito dominó. Enquanto eu me perdia em meus pensamentos, os minutos passavam rapidamente e nada do Cris voltar.

O ônibus chegou e nada do Cris chegar. Começou a me bater o desespero. Conversei com o motorista para tentar convencê-lo a esperar um pouquinho, afinal o Cris deveria estar chegando a qualquer momento, e ele aceitou esperar 5 minutos. Nesse tempo, ele me falou quanto ficaria a nova passagem de ônibus comprada de última hora: 120 euros.

Como assim? Tínhamos pagado 45 euros, esse valor era mais do que o dobro. Com muita tristeza e sem saber ainda o que fazer, disse que ele poderia ir embora, que não íamos pagar esse valor. O ônibus partiu e eu fiquei chorando na rodoviária, sendo alvo dos olhares curiosos de outros viajantes que esperavam seu ônibus. 5 minutos depois chegou o Cris, correndo, todo esbaforido. Ficamos quase uma hora na rodoviária sem saber o que fazer, discutindo nossas alternativas.

Se ficássemos mais um dia na cidade, perderíamos o hotel de Siena e teríamos que pagar mais uma diária de hotel em Milão; se alugássemos um carro, teríamos que pagar a locação, o combustível, os pedágios e a alta taxa de retorno; se fôssemos de trem, teríamos que ir até Florença e de lá pegar um ônibus para Siena (muito cansativo e também caro); se fôssemos no ônibus da noite, teríamos que ficar perambulando pela cidade com as nossas malas ou esperando na primitiva rodoviária até a hora da partida.

Nossas opções não pareciam muito boas. Foi quando resolvemos perguntar no único guichê da rodoviária se não tinha nenhuma outra empresa que fazia o trajeto para Siena. Para a nossa surpresa e alívio, tinha um ônibus que iria sair às 11 horas da manhã. Ele levaria o dobro do tempo para chegar, pois ia parar em quase todas as cidades do caminho, e o preço era apenas um pouco mais caro do que tínhamos pagado anteriormente. Essa era a nossa melhor alternativa e nós a pegamos. Uma viagem de 5 horas se transformou em quase 10.

Chegamos em Siena no final do dia, mais uma vez quebrados e enjoados de tanto sacolejar dentro do ônibus. O importante é que no dia seguinte íamos buscar o Chulé, e isso aliviava uma boa parte do cansaço e stress do dia.

O Cris correu tanto nesse dia para chegar a tempo de pegar o ônibus, que no dia seguinte estava com as pernas doloridas. Desse dia em diante, sempre que eu penso na frase “corre que dá”, eu lembro do Cris desesperado correndo pela cidade, chegando à conclusão de que não dá rs.

Natany Gomes

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