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Causos da Estrada

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Quem nunca teve um episódio na vida que se sentiu meio (ou totalmente) farofeiro que atire a primeira pedra (atira não, por favor hehehe).

Lembro de quando eu era criança que em algumas férias íamos visitar nossa família que mora no Maranhão. Nessa época não se viajava de avião, não. Era de ônibus mesmo, 3 dias inteiros sacolejando dentro de um ônibus lotado. Minha avó preparava uma farofa com coxas de frango para irmos comendo no caminho. E era tradição, todas as vezes que íamos para o Maranhão era sempre a mesma farofa, que abríamos na frente de qualquer um sem o menor pudor e comíamos. Ahhh que saudade da minha vozinha!

Eu sempre fui muito desencanada em relação a alguns comportamentos socialmente inadequados. Por exemplo, nunca tive dificuldade de parar em um acostamento e fazer xixi, mesmo passando vários carros pela estrada. Sempre penso que o carro passa rápido demais e não dá para ver nada direito.  Outra coisa é trocar de roupa no carro mesmo. Não tem ninguém por perto, o banheiro fica muito longe e é uma troca rápida? Não tenho dúvidas: abro as duas portas do carro e me troco entre elas, bem rapidinho. Quando o Cris percebe já estou pronta rsrs. Mesmo que passe alguém, a pessoa não vai parar para ficar observando a cena. O bom senso presume que ela agirá com discrição. O ruim é quando o lugar é muito movimentado e peço para o Cris fazer cabaninha fechando o espaço entre as duas portas. Ele até faz, mas a cara ... rsrsrs.

O Cris é todo preocupado. De 0 a 10, sendo 0 nada farofeiro e 10 muito farofeiro, o Cris tiraria menos 1. No começo da viagem, dava a hora do almoço, eu queria parar em qualquer lugar para prepararmos a nossa comida, mas para o Cris tinha que ser um lugar totalmente ermo, longe do olhar reprovador das pessoas rs.

Já chegamos ao cúmulo de dirigir uns 10 quilômetros para dentro de uma zona rural deserta só para o Cris se sentir à vontade para fazer o almoço. Eu pararia o carro na cidade mesmo, numa vaga encostada numa parede onde não passasse pessoas por trás e isso para mim já estaria bom. Temos as nossas diferenças no termômetro de farofeiro e fomos nos ajustando com o tempo de estrada, eu pegando mais leve e o Cris aprendendo a desencanar um pouco.

Quando chegamos na Europa eu confesso que me senti em casa hehehe. Em tão pouco tempo já vimos de tudo: pessoas andando pela cidade de pijamas; noiva sem maquiagem e penteado, calçando um sapato velho e arranhado; vozinho dos seus 70 anos usando shorts jeans da neta (só pode ser), bem curtinho que a gente quase via o bumbum; pessoas tirando a roupa na frente de todo mundo e ficando só de roupa íntima para nadar num lago; outras tantas batendo papo só de cueca num estacionamento aberto sem pressa para se trocar; top less; meninas de biquíni tomando sol no meio de uma cidade movimentada; e uma galera fazendo churrasco no meio da rua. Essas são as situações que eu lembro agora, mas pode ser que tenha mais alguma coisa, pois o pessoal por aqui realmente não se importa muito com a opinião alheia.

Nesse contexto, o Cris acabou ficando mais sossegado com várias questões. Cozinhar, por exemplo, não é mais um grande stress. Existem diversas paradas na estrada onde as pessoas fazem o seu lanche ou comem a comida que trouxeram de casa antes de seguir viagem (marmita mesmo). Se eles fazem, a gente faz também rs. Sempre paramos nesses espaços e preparamos nosso almoço, sem vergonha. Acabamos sendo objeto de olhares, mas por causa do carro que está todo adesivado. Se não fosse por isso ninguém se incomodaria em olhar para o nosso lado, passaríamos desapercebidos.

Mas mesmo estando em um ambiente mais desencanado e propenso a algumas farofadas, até eu tenho os meus limites e certo dia achei que eu ia morrer de tanta vergonha.

Paramos para dormir em um estacionamento de praia em Copenhagen, na Dinamarca. Nesse estacionamento tinha banheiro, mas não tinha chuveiro para tomar banho. Na primeira noite não precisamos tomar banho, pois já tínhamos tomado no camping de onde saímos. Na segunda noite, no entanto, já estava tudo certo: íamos montar nossa barraca banheiro e tomar banho dentro dela no fundo do carro depois que escurecesse.

Mas quando foi umas 19hs decidimos não passar a noite na Dinamarca e seguir para a Suécia, pois na Dinamarca não é permitido acampar assim em estacionamentos e na Suécia é. Íamos dormir mais tranquilos sem o medo da polícia nos acordar durante a noite.

O problema é que já estava tarde e não queríamos arriscar ficar sem tomar banho, pois nem sabíamos ainda como seria o lugar para onde estávamos indo na Suécia. Decidimos, então, tomar banho na Dinamarca antes de seguir viagem, mas eu achei que o Cris iria montar a barraca para isso. Que nada, ele resolveu incorporar o farofeiro nesse momento e estava disposto a tomar banho de roupa de praia no fundo do carro, sem proteção nenhuma.

Me pareceu uma decisão muito ousada para o Cris, mas o estacionamento estava vazio, só tinha a gente, já era quase 20hs e, no meu ponto de vista (e acredito que no dele também), não chegaria mais ninguém a essa hora. Dei banho no Dani e tudo foi muito tranquilo (com exceção do escândalo por causa da água gelada rs). Algumas pessoas passavam caminhando ou de bicicleta por uma ciclovia próxima, mas ninguém olhava.

Foi então que chegou a minha vez. Coloquei o maiô e fui para o fundo do carro. Eu já tinha me molhado toda e começado a passar o sabonete quando chegou um carro e parou numa vaga bem do nosso lado. Tentei me esconder do outro lado, que não tinha carro nenhum, mas para a minha surpresa chegou outro carro parando desse lado, não na vaga colada ao nosso carro, mas com um bom campo de visão para onde eu estava.

Nessa hora a família do primeiro carro já tinha descido e estava parada na ciclovia conversando. Parecia que decidiam se iam para a praia ou iam embora. Fiquei sem lugar para ficar e comecei a tomar o banho o mais rápido que eu pude. Mas o pior ainda estava por vir: lavar o cabelo. Quando comecei a lavar o cabelo o estacionamento lotou. O que era aquilo? De onde tinham saído todas aquelas pessoas? Eu queria sumir nesse momento e ir embora dali o mais rápido possível, mas a espuma se multiplicou de tal forma que não conseguia tirar todo o shampoo da cabeça com a rapidez que eu gostaria.

Para mim, nesse momento todo mundo que estava no estacionamento ou passando por ele estava me olhando. A família do primeiro carro, mesmo, estava rindo e olhando para a nossa direção com bastante frequência. Que vergonha!!! Estava vendo a hora de chegar algum guarda no local. Ai ai ai, só de lembrar fico com vergonha de novo. Por que mesmo não montamos a barraca? Nessa hora eu queria matar o Cris rs. E no fim o bonitão nem tomou banho ali, achou que seria muito constrangedor. Pode isso? Só eu passei essa vergonha toda.

Terminei de tomar o meu banho e entrei no carro e não saí mais rsrsrs. Logo depois a primeira família entrou no carro e foi embora também. Acho que eles estavam só esperando eu terminar meu banho para ir embora. Muito gentis! Teria sido bem estranho eles voltarem para o carro no meio do meu banho e ficarem observando a cena tão de pertinho, mesmo que por alguns segundos.

Depois de alguns dias, já na Suécia, percebemos que vai dando o final do dia, próximo ao pôr do sol, e as pessoas começam a aparecer na praia, os estacionamentos lotam nesse horário. Acabei escolhendo o pior horário para tomar meu banho exposto kkkkk. Depois dessa nunca mais, ou monta a barraquinha ou nada de banho.  Sou farofeira, mas nem tanto!

Natany Gomes

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