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Durante muitos anos estudei francês e, embora eu não tivesse vontade de viajar para França a passeio, tinha muita vontade de ir para falar francês. Sempre achei a língua linda e sonhava em passar um tempo no país para colocar em prática tantos anos de estudo.

Essa oportunidade somente veio agora na viagem, quando o meu francês já estava bem capenga de muitos anos sem ser usado. Mas não teve problema, porque deu para aproveitar mesmo assim. Era muito legal ir redescobrindo palavras que eu já tinha esquecido ou ouvindo as pessoas conversarem e conseguir entender o que diziam. Eu não perdia uma oportunidade para prestar atenção numa conversa alheia rs. E depois de 25 dias no país, já estava até arriscando umas frases mais complexas!

Ficamos 25 dias na França, entre idas e vindas, mas confesso que o nosso desejo era ter ficado mais tempo. Apesar de Portugal falar a mesma língua que a gente, foi na França que me senti em casa. O Cris não se sentiu da mesma forma, talvez até pela questão da língua, mas ele também gostou muito do país.

Eu tinha uma ideia de que a França era um lugar cheio de franceses grosseiros e fedidos, que te tratavam mal se você ousasse falar em inglês com eles. Eu sempre odiei essas visões estereotipadas e engessadas sobre um lugar ou povo, mas inconscientemente era isso que eu imaginei que encontraria pela França. Me enganei completamente, para a nossa alegria!

Falei demais durante todo o tempo que estivemos na França e não fui distratada nenhuma única vez! Percebi que algumas palavrinhas em francês e um largo sorriso seguido de um “bonjour” eram o segredo para ganhar os franceses. Depois disso, eles nem se importavam de falar com você na língua que você quisesse rs.

O Cris nem sempre seguiu os meus passos e certo dia acabou levando bronca de um motorista de ônibus, que se recusou a ajuda-lo enquanto não fosse cumprimentado adequadamente. Depois desse dia, ninguém mais esqueceu do mágico “bonjour” rs.

Quanto ao fato deles serem fedidos, encontramos algumas pessoas bem catinguentas, é verdade, mas bem menos do que pensamos que encontraríamos. Gastamos algum tempo pensando onde estariam os franceses fedidos que tanto ouvimos falar e pensamos em algumas possíveis razões para não termos encontrado tantos assim:

  1. Primeiro porque ainda não é verão e, portanto, não está fazendo calor de verdade que dê para suar tanto. Somado a isso, as pessoas ainda estão andando pelas ruas de casaco, o que esconde um pouco a urucubaca.
  2. Outra possível razão que nos ocorreu foi de que esse costume de não tomar banho possa ser algo da geração mais antiga e que está sendo abandonado pelos mais jovens.
  3. Ou então que eles não tomam banho todos os dias no inverno ou dias de muito frio.

A verdade é que não sabemos porque não cruzamos com muitas pessoas fedidas, só ficamos conjecturando para passar o tempo e se divertir rs. Da nossa parte, não tivemos nenhum problema para tomar banho no país, todos os campings que ficamos tinham chuveiros e geralmente o uso não era limitado por minutos. Podíamos tomar banhos pelo tempo que quiséssemos, apesar do chuveiro ser daqueles que precisa ficar apertando a cada 20 segundos para retomar o fluxo da água.

Uma coisa que achamos muito curiosa em vários campings da França, no entanto, foi o fato dos banheiros serem mistos. Mesmo em Paris, que o camping era gigantesco, os banheiros não eram segregados entre homem e mulher. Era muito desconfortável estar usando o vaso sanitário e ouvir algum homem usando a cabine do seu lado. As mulheres com certeza saíam perdendo em dividir o banheiro com o sexo oposto, pois geralmente banheiro usado por homem é sempre mais nojento, cheio de respingo de xixi no vaso e até mesmo no chão. Fora o medo de ir ao banheiro de madrugada e dar de cara com um estranho lá dentro. Sem chance! Muito moderninho para mim!

Falando em vaso sanitário, outra coisa que nos chamou a atenção nos campings e nas casas que ficamos é que geralmente o vaso sanitário fica num cômodo isolado do resto do banheiro. A pia nunca está disposta perto do vaso, sempre longe. Numa das casas que ficamos, fazíamos as nossas necessidades num cômodo pequeno, onde só tinha o vaso, e lavávamos a mão em outro, onde ficava a pia e o chuveiro. Para nós parece estranho, nunca vi esse modelo no Brasil, mas me pareceu mais higiênico assim.

De todos os países que passamos, a França é em disparado o melhor país para acampar. Toda cidade tem pelo menos um camping. É possível sair de manhã para passear, sem se preocupar em procurar um lugar para o final do dia, pois a oferta é enorme e todos os melhores campings aceitam o nosso cartão de desconto. Foi o país que pagamos mais barato nos campings também, muito provavelmente porque tínhamos muitas opções para escolher.

Sempre que pensava na França, a única imagem que vinha à minha mente era da Torre Eiffel e talvez por isso nunca me empolguei muito para visita-la. Já nos primeiros dias no país, a França roubou meu coração e me arrancou muitos suspiros, e não foi em Paris.

O país é lindo demais. As pequenas cidades parecem de mentira, de tão perfeitas que são. Sempre a beira de um rio, com casinhas pitorescas, janelas e ruas floridas e tudo muito arborizado e limpo. Não vimos nenhuma cidade feia, dá para acreditar? Passamos por plantações, campos floridos, parques, cânions e muita natureza. Uma natureza preservada, como não pensamos que iríamos encontrar na França.

Visitamos as plantações de lavanda no finalzinho de maio, na esperança de já encontrar algum campo florido, mas eles ainda estavam verdes. Ficamos sonhando em ver aquelas imensas plantações bem roxinhas, mas não foi dessa vez. Talvez tenha sido até melhor assim, eu ia dar muito trabalho para ir embora se elas estivessem floridas rs.

De todos os lugares que passamos na França, o que menos gostamos foi Paris. A cidade tem seus encantos, com certeza, mas traz consigo muitas mazelas de cidades grandes. Coisas que não vimos no resto da França vimos em Paris, como lixo jogado no chão das ruas, mendigos nas calçadas, trânsito caótico e barulhento, motoristas estressados, aglomerado de turistas, muitos vendedores ambulantes, reforma para todo lado. Em volta da Torre Eiffel, por exemplo, o visual estava totalmente poluído por um monte de alambrados de uma reforma que estava em andamento. Nos sentimos num canteiro de obras e não na cidade mais romântica do mundo.

O bom é que em Paris tivemos a oportunidade de experimentar a famosa manteiga Bordier, considerada por muitos a melhor manteiga do mundo. Seu processo de fabricação leva 72 horas, garantindo um sabor único. Aliás, a França é o paraíso para os amantes de manteiga. Nós experimentamos diversas marcas diferentes e produções de diferentes regiões. Claro que antes de irmos para o Reino Unido fizemos um pequeno estoque da manteiga que mais gostamos!

Ainda em Paris tivemos a oportunidade de ir a Disney. O parque é menor que o de Orlando e um pouco menor que o da Califórnia. No mais, é tudo idêntico aos parques americanos. Demos sorte de pegar um dia de sol e com poucas pessoas. Tínhamos ouvido falar que o parque era lotado de chineses, mas nesse dia eles não estavam por lá. Não pegamos nenhuma fila com mais do que 30 minutos de espera. Um sonho!!! Na entrada garantimos nossos bottons de “Feliz Aniversário” e “Estamos Celebrando”, totalmente grátis como nos parques americanos, só que dessa vez escritos em francês. Tão lindos!!! Passamos o dia recebendo felicitações de aniversário. Eu amei, afinal minha intenção original era passar o meu aniversário na Disney, mas nos atrasamos um pouquinho para chegar em Paris e perdemos a data. Não tive nenhum problema em comemorar duas vezes, da segunda vez na Disney.

Eu poderia dizer que não tem ninguém que se diverte tanto na Disney como eu, mas dessa vez arrumei um parceiro à altura. Chegamos no parque um pouco depois das 10 horas da manhã e quando fomos embora, às 22 horas, o Dani foi embora aos prantos porque queria ficar mais um pouquinho. Das outras duas vezes que fomos ele era muito pequenininho e nem sabia onde estava, mas dessa vez ele entendia bem e já podia brincar em quase tudo, o que tornou o passeio muito mais legal para ele.

Assim como na Califórnia, em Paris também tem dois parques da Disney, mas só fomos em um. Ficamos com vontade de ir no outro, mas ia ser um gasto muito alto e para completar, o nosso visto já estava no finalzinho, não dava para estender mais. Ficará como desculpa para voltar um dia.

Ainda na França, tivemos a oportunidade de visitar uma loja de fábrica da Lindt. Não foi nada programado, nem sabíamos da fábrica quando chegamos à cidade de Oloron Saint Marie. Começamos a passear e a todo momento sentíamos um cheiro forte de chocolate. Primeiro pensamos que era alguma cafeteria que servia chocolate quente, mas o cheiro se repetiu em diferentes lugares da cidade, o que nos fez descobrir a fábrica da Lindt. Do lado da fábrica tinha uma loja com preços mais acessíveis e com uma variedade de sabores que eu nunca tinha visto antes. Alguns chocolates mais próximos do vencimento estavam muito baratos. Chegamos a pagar 0,50 euro por uma barra de 100 gramas de chocolate meio amargo com cramberry (me arrependo de só ter comprado uma). Tinha gente enchendo o carrinho, literalmente. Acho que a gente deveria ter aproveitado a oportunidade e o preço e comprado mais, porque no supermercado não achamos por menos que 2 euros cada barra. Mesmo não levando todos os chocolates que eu queria, valeu muito a pena a visita.

Terminamos nossos dias na França visitando a região da Normandia, onde milhares de soldados perderam suas vidas no famigerado Dia D. Visitamos o lindo cemitério americano que foi feito às margens da Omaha Beach em homenagem aos soldados que morreram em combate. Esse cemitério aparece no começo do filme “O resgate do soldado Ryan”. Aliás, dentro do museu do cemitério tem a foto de quatro irmãos cuja história inspirou o filme. Não é um passeio feliz, longe disso, mas vale muito a pena, até como uma forma de manter vivo na lembrança o sacrifício feito por todos aqueles que perderam a vida ali.

A França já deixa saudades! Podemos resumir em uma palavra nossos dias nesse país incrível: Parfait!

Natany Gomes

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