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Queríamos conhecer a Croácia com calor, pois já tínhamos ouvido falar de como seu litoral era lindo, mas nosso prazo dentro da área da Europa estava no fim e precisávamos achar um lugar para ficar durante o inverno europeu. Como nosso carro ficou consertando na Itália, o lugar mais próximo fora da área do Schengen era a Croácia e acabamos indo para lá.

Sempre comentamos sobre a área do acordo Schengen, mas nunca falamos o que isso realmente significa. Só para ficar mais fácil entender, quase todos os países da Europa fizeram um acordo de livre circulação entre suas fronteiras e dentro dessa área os brasileiros não precisam de visto para uma viagem de 90 dias, num prazo de 180 dias. Somente fica de fora dessa área europeia os países do Reino Unido, dos Balcãs e a Rússia. Até mesmo os países do leste europeu estão dentro da área do Schengen, o que dificulta muito a nossa viagem, pois depois que passamos 90 dias visitando os países tradicionais da Europa, temos que ficar fora dessa área por mais 90 dias, antes de sermos autorizados a entrar novamente.

A Croácia, embora já tenha pedido para compor os países do Schengen, ainda não teve sua inclusão, para a nossa alegria. Podemos viajar pelo país por 90 dias, sem necessidade de visto.

Com um prazo tão longo, ficamos mais de um mês no país, curtindo bem cada cidade por onde passamos. Como era inverno e os campings estavam quase todos fechados, ficamos sempre hospedados em Airbnb (pagando preço de camping, por causa da baixa temporada). Deu para sentir como se estivéssemos morando no país e até frequentamos lugares menos turísticos e mais locais.

Aproveitamos para cozinhar mais, para estudar bastante com o Dani, para levar o Dani para brincar nos parquinhos onde as crianças croatas brincam, para fazer algumas caminhadas quando a chuva dava trégua e aproveitar para viver um dia a dia mais tranquilo e sem aquela correria de ter que estar cada dia numa cidade diferente.

Em razão de tudo isso, tivemos mais tempo para conversar com as pessoas do país e sentir como é a vida de verdade por lá. E adoramos!

O país é lindo demais, e isso pode não ser novidade para muita gente, pois de uns anos para cá a Croácia tem ganhado muita divulgação turística e virado o destino dos sonhos de muitas pessoas pelo mundo. E não é à toa. O mar na Croácia é verde esmeralda com águas muito transparentes, as cidades são lindas, limpas, com uma excelente estrutura para o turismo e muito bem preservadas.

Viajando pela costa da Croácia, vimos muitos campings pelo caminho, e alguns deles estavam abertos mesmo no inverno. Isso facilita muito a vida de quem viaja em motorhome ou com barraca na Croácia, pois é proibido no país acampar fora das áreas designadas para camping. Conhecemos um casal que estava com seu motorhome parado a alguns dias numa praia de Split, mas bem em frente tinha uma placa dizendo que era proibido, então a qualquer momento poderia aparecer a polícia e pedir que eles saíssem dali e ainda os multar. Desde que a polícia nos mandou sair de um lugar proibido no meio da noite, não gostamos mais de arriscar.

Passamos pelas principais cidades turísticas como Zagreb, Pula, Zadar, Split e Dubrovnik e, com exceção da capital que é mais cosmopolita, as demais preservam um ar medieval, com suas casas de pedras, fortalezas, muralhas e ruazinhas estreitas com o chão brilhando como se tivesse sido encerado. Adorávamos pegar as bicicletas e sair pedalando, entrando em cada ruazinha e descobrindo tudo que a cidade tinha para oferecer. Aliás, andando de bicicleta pelas cidades percebemos algo curioso: em todo cruzamento, quando o farol abre para o pedestre, nunca está aberto só para ele, um dos lados da pista também pode circular carro. Nós estranhamos muito, pois o farol abria e tanto pedestres como carros começavam a se movimentar e sempre dava aquele medo de que o carro não parasse para atravessarmos, mas no final era um receio infundado, eles já estão acostumados com o seu semáforo desse jeito e sempre prestam atenção se tem pedestre para ceder a preferência.

Nos dias que aproveitávamos para visitar as cidades, sempre no final do dia parávamos no melhor ponto para contemplar o pôr do sol antes de voltar para casa. Quando não estava muito frio ou ventando, passeávamos pela cidade à noite para vê-la iluminada. Nos sentimos muito seguros na Croácia, o nosso carro dormiu todas as noites na rua na frente das casas que ficamos e nunca tivemos nenhum problema.

Estava frio o período que estivemos no país, então não deu para curtir as praias, apenas contemplávamos de fora nos dias que fazia sol. Estava doendo o coração pensar que íamos embora sem entrar no mar, com aquela água tão bonita e transparente. As praias geralmente são de pedras, então a água acaba sendo mais cristalina pois não se mistura com areia. Era interessante ficar admirando as ondas quebrando no raso com aquela transparência toda, parecia um convite para entrar no mar. Num dos poucos dias de sol, eu (Naty) não resisti e entrei. Só estávamos nós na praia e tínhamos parado ali apenas para fazer um piquenique no almoço e depois seguir viagem, mas o sol começou a esquentar, estava uns 16 graus, e não pensei duas vezes: hoje vai ser a minha oportunidade de curtir esse mar lindo. Não durei 5 minutos dentro da água, porque minhas pernas começaram a adormecer. Podia estar quente do lado de fora, mas a água estava congelante rs.

Uma coisa que apreciamos muito na Croácia, de um modo geral, foi a gentileza das pessoas. Sempre que precisávamos de alguma informação na rua ou nos mercados, éramos tratados com muita consideração. Por onde passávamos as pessoas nos cumprimentavam cordialmente, e até fomos abordados na rua, apenas para conversar. Em Zagreb, que é a capital e uma cidade grande, pedimos uma informação para o motorista de um ônibus e qual não foi a nossa surpresa quando ele nos deu toda atenção, fez sugestões de onde ir e que caminho seria melhor pegar. Em Zadar, o Cris estava colando um adesivo no carro quando o caminhão de coleta de lixo passou e um dos rapazes do caminhão se aproximou ao ver o Chulé e todo simpático quis saber onde estava o adesivo da Croácia. Até mesmo os anfitriões dos apartamentos que ficamos foram muito mais gentis e atenciosos conosco do que os de outros países. Em uma das casas surgiu até um convite para café da tarde e bate papo, enquanto as crianças brincavam no quintal.

Ficamos impressionados como muitas pessoas falam inglês no país. Todas as vezes que precisamos de ajuda, encontramos alguém que falava inglês. E isso também em regiões que não eram tão turísticas. Conversando com uma anfitriã de uma das casas que ficamos, ela nos explicou que as escolas na Croácia ensinam de verdade o inglês e todos aprendem a se comunicar na língua. Claro que sempre tem quem se aprimora e quem fica no básico, mas de um modo geral todos tem um nível mínimo de conhecimento da língua.

Outra coisa que nos impressionou bastante no país é a quantidade de supermercados e padarias para todo lado. São tantos mercados, que muitas vezes passamos numa mesma rua e vemos um do lado do outro. É muito difícil andar mais de um quilômetro em qualquer direção sem encontrar um mercado ou uma padaria no caminho. Na Croácia encontramos o arroz mais soltinho da Europa, e aproveitamos para fazer estoque, pois não aguentávamos mais comer arroz empapado. Encontramos também um salgadinho muito estranho. Ele tem a aparência do Cheetos do Brasil, mas é feito de amendoim e tem um gosto muito forte de amendoim. Não é ruim, mas não podemos dizer também que é gostoso, é esquisito.

As padarias na Croácia se chamam pekara e são diferentes do que estamos acostumados no Brasil. Elas vendem só pão. Geralmente são estabelecimentos pequenos, com um balcão onde ficam expostos os tipos de pão. Você compra, paga e vai embora, não existe uma área onde você possa sentar e consumir seu pão ali, acompanhado por um cafezinho.

Eles gostam bastante de pão com massa folhada e vendem um pão todo enroladinho, recheado com queijo ou carne, que parece um caracol. Descobrimos depois que se chama Burek. Nós comemos e aprovamos! Tem também o nosso famoso bolinho de chuva por lá, que eles chamam de fritule (você pode pedir com ou sem uva passa). Além disso, encontramos um pão que parece muito com o sonho brasileiro, mas a maioria das padarias só vendiam com o recheio tradicional de damasco (só encontramos em um lugar com recheio de creme).

Apesar de termos ouvido de alguns croatas que os salários na Croácia são muito baixos, a impressão que tivemos é de que as pessoas vivem muito bem, possuem casas grandes e boas e uma vida relativamente tranquila. Pelo que entendemos, os croatas não ganham o suficiente para viajar muito e conhecer outros países, além do período de férias ser muito curto. Mesmo assim, no dia a dia a vida é mais tranquila e trabalham menos horas, conseguindo aproveitar melhor o tempo com a família.

Por fim, gostaríamos de comentar sobre algo que geralmente não prestamos atenção quando visitamos um lugar: a coleta de lixo. No dia da coleta, todos os moradores colocam suas latas de lixo na calçada (todas as latas são iguais). O caminhão passa e os coletores de lixo pegam a lata, encaixam-na no caminhão de lixo e o caminhão automaticamente ergue a lata e despeja o conteúdo dentro do triturador, sem que ninguém tenha que tocar o lixo.

Pensamos na hora como seria legal termos algo parecido no nosso país, para que o coletor de lixo não tenha que pegar em sacos e sacolas sujas, com cacos de vidro ou outros materiais cortantes correndo o risco de se machucar ou contrair uma doença. Mas logo em seguida pensamos que se alguém deixasse sua lata de lixo para fora de casa o dia todo, ou não a encontraria a noite quando voltasse do serviço, pois teria sido roubada, ou a encontraria depredada. É difícil fazer melhorias num país assim. Uma pena! Essa seria uma muito bem-vinda!

Natany Gomes

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