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Assim que entramos na Turquia já percebemos algumas coisas bem diferentes em relação aos demais países por onde já tínhamos passado. A primeira delas foi a quantidade de mesquitas espalhadas pelo país. É possível dizer sem medo de errar que não existe ninguém que não escute em sua casa os chamados à oração, mesmo que bem baixinho.

As mesquitas estão em todo lugar e são facilmente identificadas por uma torre bem alta ao lado de cada mesquita. Essas torres são chamadas de minaretes e sua função é fazer com que a voz da pessoa que anuncia o chamado às 5 orações diárias possa ser ouvida a grandes distâncias. Podemos dizer que os minaretes cumprem sua função com maestria, pois em todos os dias que ficamos no país ouvimos todos os chamados!

Esse chamado na Turquia é feito através de uma música, que provavelmente seja uma oração cantada, mas não temos certeza já que era em turco. O que sabemos é que no nosso primeiro dia na Turquia paramos para dormir em um camping ao lado de uma mesquita. Estávamos na barraca conversando antes de dormir quando tomamos um susto com a música alta vinda da mesquita. Até gravamos um áudio e enviamos para a família, de tão empolgados que ficamos.  Foram uns 5 minutos de música e achamos tão bonito, tão diferente, nunca tínhamos estado em contato com a cultura muçulmana tão de perto assim. O que não sabíamos, no entanto, era que esse mesmo chamado aconteceria de novo às 6 horas da manhã, e nesse horário os 5 minutos de música pareceram ter durado uma hora inteira! Foi inevitável pensar que na Turquia ninguém perde o horário para o trabalho!  

No começo nos preocupamos muito com a questão da religião e da diferença que ela faz entre homem e mulher. Seria um problema não usar véu? Iria ser tratada mal se tivesse que falar com um homem para resolver alguma questão? O Cris poderia falar com alguma mulher muçulmana?

No primeiro dia que fomos ao mercado na Turquia, o Cris queria saber uma informação sobre um produto e não pensou duas vezes, perguntou para a pessoa ao lado: uma mulher usando véu! Eu estava mais distante e logo que vi o Cris conversando com a mulher eu me aproximei. E se ela fosse casada e o marido não gostasse desse contato com homens estranhos? Já nós dois juntos não teria problema.

Com o passar dos dias, no entanto, percebemos que na Turquia, principalmente nas regiões turísticas, as diferenças são tratadas com bastante respeito. Em nenhum momento me senti julgada ou inferiorizada por ser mulher e não ser muçulmana, além de ser muito legal ver a miscigenação cultural nas cidades: algumas mulheres de burca, muitas usando o véu, muitas sem véu e algumas até com pouca roupa rs.

Aliás, nos mercados, comércios e lojinhas não era feita nenhuma diferença entre mim e o Cris. Quem dava atenção aos vendedores era tratado como rei. Geralmente essa pessoa era eu rsrs. Eu adorava essa interação com os turcos. Eles tinham um papo agradável, não forçavam a barra caso você não quisesse comprar, sempre davam amostras dos docinhos turcos, se esforçavam para te entender na sua língua, enfim, os caras são realmente mestres em fazer você comprar! Até a gente, que não podia ficar gastando dinheiro, acabou comprando algumas coisinhas rs.

O legal era a negociação, pedir desconto na Turquia parece a palavra de ordem e no final todo mundo saía feliz. Até o Dani curtiu a arte da negociação e começou a querer fazer negócio com tudo, inclusive com a gente rs.

Num determinado dia, ele passou horas procurando moedas pelo caminho e conseguiu juntar quase 2 liras, que levou alegremente para o Grand Baazar para tentar comprar dois olhos turcos. Cada olho turco custava 2 liras, mas o rapaz da loja achou tão legal ver uma criança pequena tentando fazer negócio que, não apenas vendeu os dois olhos turcos por um pouco menos que 2 liras, como acabou dando para o Dani mais um olho turco de broche, como presente. Que diferença da Europa Ocidental, dependendo do lugar que você pede desconto, só a cara da pessoa te fuzila.

Foram muitas coisas diferentes que nos chamaram a atenção na Turquia, e que conquistaram o nosso coração. No entanto, a que mais nos impressionou foi a quantidade de gatos nas ruas. Em qualquer cidade por onde passamos sempre encontrávamos gatos aos montes. Eram muitos mesmo e sempre que chamávamos a atenção de algum, ele vinha até nós miando, já esperando que fôssemos dar alguma coisa para comer. As portas dos restaurantes ficavam lotadas com gatinhos pidões e alguns mais atrevidos até entravam no restaurante.

Certo dia paramos numa lanchonete para comer um kebab e um gato veio até a nossa mesa e ficou o tempo todo batendo a patinha na minha perna pedindo comida. Engraçado que eles nem se importam com a pimenta da comida turca, nós estávamos morrendo para comer o kebab apimentado e ele comia seus pedaços na maior naturalidade! Os donos de restaurante possuem uma bisnaga de ketchup cheia com água para poder espantar os gatos de dentro dos estabelecimentos. É bastante eficiente.

Descobrimos que os muçulmanos não criam os animais dentro de casa, como animais de estimação, mas possuem uma responsabilidade moral de cuidar dos animais que vivem nas ruas. Em um dos campings que ficamos, vimos uma família turca pela manhã colocando ração para os gatos do camping. Eles viajam num motorhome sem nenhum animal, mas carregam um saco de ração para alimentar os animais que encontram pelo caminho. De fato, não vimos em toda Turquia nenhum gato ou cachorro na rua que fosse magrelo e com cara de que passa fome, mas foi inevitável ficar com dó de tantos animais soltos sem um abrigo quentinho no frio, sem controle de natalidade, muitas vezes caçando comida na lixeira e sem uma pessoa parar dar carinho e atenção.

Não ficava com tanta pena dos gatos, porque, embora alguns estabeleçam um grande laço afetivo com os seus donos, a grande maioria vive bem sem o contato humano. Mas os cachorros que viviam na rua me cortavam o coração. Eram gordinhos, bem alimentados, uma pessoa ou outra fazia carinho esporadicamente, mas não tinham um dono para dar e receber amor.

Acabamos incorporando como nossa missão nos dias que ficamos na Turquia fazer carinho em todos os gatos que permitissem e nos cachorros que encontrássemos, e sempre que possível, dividir nossa comida com eles. Às vezes era difícil andar um quarteirão sem parar diversas vezes rsrs. O Dani estava no céu, porque ele ama animais, especialmente os gatos. Além dele passar o dia todo correndo atrás de gato na rua, à noite quando chegávamos ao camping ele sempre tinha um monte de bichanos para brincar. Foi um dos meses da viagem que o Dani mais gostou, com certeza! Perdi as contas de quantas vezes ele nos pediu um gatinho quando voltássemos para casa.

Por fim, mais uma coisa nos chamou a atenção na Turquia, e essa, infelizmente, não foi muito boa. Ficamos cerca de uma semana passeando pelo litoral turco, que tem praias lindíssimas, algumas com o mar azul piscina. Como é baixa temporada, as pessoas não vão à praia na Turquia, então pegamos tudo muito vazio, geralmente só tinha a gente na praia. As praias eram tomadas de lixo, de todo tipo. Muitas garrafas, sacolas plásticas, cordas, isqueiros, plásticos em geral, papéis. Uma tristeza! Um lugar tão lindo e tão malcuidado. Não sabemos como é na alta temporada, talvez a cidade coloque limpadores, o fato é que vimos muitos turcos jogando lixo nas ruas sem o menor constrangimento, abrindo a janela do carro e jogando latinhas. Seria necessário que o país fizesse uma campanha de conscientização para mudar essa postura e instalasse mais lixeiras nas praias, por exemplo.

Num dos dias, visitamos uma praia muito bonitinha, de uns 200 metros de extensão. Seu estado era deplorável, tinha muito lixo até na água. Como tinham duas caçambas de lixo próximo dali, resolvemos tirar a manhã e limpar a praia. Gastamos umas duas horas e retiramos 7 caixas, tipo engradado de cerveja, cheias. Enchemos uma caçamba. Depois disso, conseguimos curtir a praia limpinha e ainda ensinar ao nosso filho sobre a importância de cuidar do meio ambiente, não jogando lixo fora do seu lugar e recolhendo o lixo que encontramos pelo caminho.  Essa experiência nos fez muito bem e resolvemos adotá-la daqui para frente na viagem. Sempre que encontrarmos algum lugar muito sujo precisando de uma mãozinha, iremos ajudar.

A Turquia deixará saudades, com certeza! Sua diversidade, sua agitação, sua história, sua culinária, seus doces maravilhosos, seu preço acessível. Vivemos bons momentos nesse país, conhecemos pessoas amáveis e vimos muitas belezas, que com certeza nunca esqueceremos! Obrigada, Turquia!

Natany Gomes

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