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Quando saímos da Rússia, fomos em direção à Tbilisi, que é a capital da Geórgia. Lemos vários comentários sobre o país dizendo que ele é seguro e estávamos dispostos a fazer o máximo de campings livres que conseguíssemos. Tínhamos encontrado no aplicativo IOverlander um lugar onde as pessoas faziam camping livre e resolvemos seguir para lá para avaliar se o lugar era seguro. O problema é que não sabíamos que existia uma hora de diferença de fuso horário em relação à Rússia e escureceu mais cedo do que esperávamos. Não dava para simplesmente chegar de noite num lugar desconhecido e conseguir avaliar a questão da segurança.

Já havíamos conversado com um casal de amigos viajantes que tinham acabado de passar pela Geórgia e eles nos disseram que não tinha camping na cidade de Tbilisi, então o jeito seria ou ficar num hotel simples ou ir para um Airbnb.

Entre hotel e Airbnb, nós sempre preferimos a segunda opção, pois os preços costumam ser mais baratos e temos a possibilidade de lavar roupa e cozinhar, o que equilibra nossas despesas nesse período.

Paramos o carro na estrada e começamos a pesquisar as opções disponíveis para última hora, até que encontramos um apartamento que parecia muito bom. Lemos alguns comentários e todos falavam muito bem da experiência (pelo menos os que lemos!). Mandamos uma mensagem para a anfitriã para confirmar se o apartamento estava realmente desocupado e se tinha estacionamento, como mencionado no anúncio.

Desde que entramos na Rússia, percebemos que é muito comum o anfitrião colocar que tem estacionamento, mas na verdade o que existe é a possibilidade de estacionar na rua da propriedade, o que para nós não é recomendável, já que nossas coisas ficam todas dentro do carro e corremos o risco de ter o carro arrombado ou até mesmo roubado, e isso seria o fim da viagem. Por isso, todo cuidado é pouco, e sempre confirmamos a informação.

A anfitriã foi muito simpática e nos disse que tinha estacionamento em sua área, que poderíamos ir tranquilos que mesmo que o carro ficasse aberto ninguém roubava nada. Em nossa cabeça, imaginamos um prédio com área interna para parar, assim como outros que ficamos na Rússia. Mesmo não tendo vigilância, nesses espaços é mais difícil acontecer alguma coisa, pois sempre tem alguém do prédio por lá.

Dito isso, fechamos a reserva e seguimos contentes para o endereço do apartamento. Para quem não está familiarizado com a plataforma do Airbnb, antes de fechar a hospedagem você tem apenas uma ideia da região onde fica o imóvel. Somente depois de confirmada a hospedagem é que recebemos o endereço exato por e-mail.

Quando fomos nos aproximando da localização, começamos a entrar para um bairro bem esquisito, que parecia muito com as favelas que conhecemos em São Paulo. O GPS nos mandou por algumas ruas que eram tão estreitas e com carros parados de um lado, que simplesmente não dava para passar o nosso carro. Eram nossas famosas vielas brasileiras. Tivemos que tentar várias outras ruas antes de conseguir chegar na rua onde ficava o suposto apartamento.

Depois de muito sufoco conseguimos chegar ao endereço indicado e qual não foi a nossa surpresa, não existia apartamento nenhum e muito menos uma área para estacionar. A pessoa que nos recebeu, que não era o dono, disse que poderíamos parar o carro na rua, bem na frente da pequena porta de entrada. Essa porta dava acesso a um cortiço, cheio de diversas portinhas e escadas para acessar as portas de cima, perfazendo uma construção de 3 andares só no tijolo. Um desses cômodos era o “apartamento” que tínhamos alugado.

Tivemos uma impressão horrível do lugar, a vizinhança não nos passou segurança nenhuma. Além disso, a rua era muito estreita e mesmo estacionando tudo o que dava em cima da calçada, sobrava um espaço muito pequeno para passagem de outro carro, o que poderia ser uma grande dor de cabeça se alguém batesse no nosso carro.

Nessa hora, a pessoa que nos recebeu ligou para a dona do imóvel através do Skype e nos colocou em contato com ela. Tentamos explicar a situação e como tínhamos entendido que ela dispunha de um local fora da rua para estacionarmos, mas que ao chegar no lugar não era nada disso. Que não nos sentimos seguros para deixar o carro naquela rua e que gostaríamos de pedir que ela recusasse a nossa hospedagem. Se o anfitrião recusa, recebemos nosso dinheiro de volta e nada acontece com ele. Se nós cancelamos, cada anfitrião tem uma política diferente de cancelamento, a dela era ficar com 100% do valor da primeira noite e mais 50% das demais noites. No nosso caso, como eram 3 dias, ela ficaria com o valor de 2 dias e nós, com apenas 1.

A partir desse momento, acabou toda a simpatia da anfitriã, que nos disse que era problema nosso se não tínhamos gostado do seu imóvel. Se não queríamos ficar, que cancelássemos. Por mais que tentássemos argumentar, ela estava irredutível, queria ganhar esse dinheiro de qualquer jeito.

Achamos que ela agiu de má fé com a gente, que estava sendo muito desonesta, primeiro ao nos dar uma informação inverídica sobre o estacionamento e agora, querendo ficar com o nosso dinheiro apesar de todo o mal-entendido. Em um determinado momento da discussão, ela se irritou mais ainda e disse que não ia nos dar as chaves do cômodo. Pronto, aí virou confusão. Nada de devolver o dinheiro e nada de um lugar para ficarmos.

Nessa hora deixei ela falar à vontade e fui gravando tudo. Quando avisei que estava gravando nossa conversa, ela desligou imediatamente a chamada do Skype. Eu queria chamar a polícia e insisti para que o senhor que estava nos recebendo fizesse essa ligação para nós, mas ele não fez.

Pensei por alguns segundos e vi que a situação com aquela mulher não ia levar a lugar nenhum, se dependesse dela, ficaria com o nosso dinheiro. Nesse momento percebi que nossas alternativas não eram muito boas, ou largava o osso e assumia o prejuízo de duas diárias ou implorava para ela nos entregar a chave e passaria 3 dias preocupados com o nosso carro na rua e torcendo para não acontecer nada.

Nessa hora o Cris me perguntou porque nós não ligávamos no Airbnb. Como não tínhamos pensado nisso antes? Agradeci por estar com o chip da Easysim4u e ter internet para pesquisar o número do Airbnb e por ter instalado o aplicativo MobileVoip que me permite fazer ligações para números fixos. Na época que o Cris quis instalar esse aplicativo, fiquei com dó de ter que colocar 10 euros de crédito para ter direito a usá-lo de graça, mas hoje foi o que nos salvou.

Eu liguei no Airbnb e enquanto isso o Cris voltou a conversar pelo Skype com a anfitriã. No final, perguntei para o Cris o que eles ficaram conversando e ele me disse que ela queria que eu pedisse desculpas por tê-la tratado mal e implorasse para ficar em seu cômodo. Depois de tudo, ela ainda queria me humilhar. Sem palavras para essa pessoa!

Expliquei toda a situação para o atendente do Airbnb e, para minha surpresa, ele me disse que podia ver em seu sistema que a anfitriã tinha acabado de entrar na base do Airbnb e removido a informação de que tinha estacionamento. Só confirmou mais ainda o que eu já sabia: que ela tinha agido deliberadamente para nos enrolar. O atendente entrou em contato com ela e eu esperei na linha por alguns minutos. Em seguida, me informou que iria cancelar minha reserva e devolver o dinheiro, pois a anfitriã forneceu informação inverídica sobre sua propriedade e, nesse caso, o hóspede tem todo direito de não querer ficar. Além disso, nos daria um crédito extra como compensação pelo stress que passamos e pela dificuldade de encontrar um novo lugar para ficar tão em cima da hora.

Gostaria de ser uma mosquinha para ter visto a cara da mulher quando ficou sabendo que não iria receber nada pela reserva. Fomos embora cansados, mas aliviados por não ter levado esse prejuízo. No dia seguinte, com calma, fui ler todos os comentários do Airbnb e achei dois que falavam exatamente como era a propriedade e a vizinhança e recomendavam fortemente para não se hospedar lá. Pena que não vimos esses comentários no dia anterior, teria evitado bastante dor de cabeça e canseira.

Natany Gomes

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