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Quando decidimos fazer a viagem tínhamos vários medos e receios, mas a comunicação nunca foi uma delas. Eu sempre gostei muito de idiomas e tive a oportunidade de estudar inglês, espanhol, francês e italiano quando era mais nova. Com o tempo e a falta de prática o francês e o italiano ficaram enferrujados, mas o inglês e o espanhol estavam afiados e estávamos certos de que íamos nos virar muito bem falando essas duas línguas.

Nos primeiros seis meses que viajamos pela América do Sul estivemos no céu. Conseguíamos resolver qualquer problema mais complexo que aparecesse e não deixávamos de falar com ninguém por causa da língua. Com o tempo, passei a pensar em espanhol e cada dia estava falando melhor e com um vocabulário mais extenso. O Dani também aprendeu muita coisa e já arriscava participar das conversas falando alguma coisinha em espanhol. Até o Cris que sempre se disse fluente, mas que na verdade falava um portunhol, já estava falando muito bem. Nosso último ponto na América do Sul foi Cartagena e ali os três estavam arrasando no espanhol.

Antes de irmos para a Europa, passamos 20 dias no Canadá, e a partir daquele momento eu sabia que era hora de usar o inglês, provavelmente até o final da viagem. Essa era a nossa expectativa e estávamos relativamente tranquilos!

E mesmo com uma dificuldade ou outra na Europa, pois em alguns países a população é muito idosa e não fala nada em inglês, no geral sempre encontrávamos alguém mais jovem com quem se comunicar e que pudesse nos ajudar. No pior dos mundos, se queríamos saber alguma coisa no mercado, por exemplo, digitávamos no Google Tradutor e sempre dava certo.  

Quando fomos para os países da Escandinávia e vimos como a língua deles é muito diferente e cheia de consoantes, ficamos preocupados, mas logo descobrimos que todo mundo falava inglês, até mesmo os caixas do supermercado, o pessoal das lojas de posto de gasolina, todo mundo, principalmente na Dinamarca, Suécia e Noruega. Isso foi mudando quando chegamos na Finlândia. Era como se estivéssemos começando a ser preparados para o que viria na Rússia rsrs.

Quando chegamos na fronteira da Rússia já começamos a sentir o drama e vimos que o inglês não iria nos salvar por ali. Recebemos do oficial um formulário todo em russo para responder sobre o carro. Ele tinha assinalado alguns campos que não sabíamos o que era e nos entregou o papel para preenchimento. Olhamos para aquela folha e começamos a rir, não dava para entender nada, eles até mesmo usam outro alfabeto, o cirílico. O jeito era olhar como os outros estavam preenchendo e tentar identificar o que cada campo pedia, e assim fizemos.

Esse era só o começo rsrsrs. Nos outros países quando não sabíamos o que dizia em alguma placa ou produto no mercado, simplesmente digitávamos no Google Tradutor e problema resolvido. Mas na Rússia não dava para digitar, pois não temos o alfabeto deles no nosso teclado. O jeito era tirar foto e tentar traduzir por imagem, mas nunca dá para entender perfeitamente o que está escrito. E colocar endereço no GPS? Que dureza! Ler placa de trânsito, sem chance! É torcer para não estar fazendo nada de errado!

Certa vez num mercado queria muito usar o banheiro, mas tinha um monte de coisa escrita na porta em vermelho. Como não sabia o que dizia e estava muito apertada, fui assim mesmo torcendo para não levar bronca na saída rsrsrs.

Em outro dia passamos por algo que nem sabemos o que foi até agora. O Dani é louco por essas bolinhas que compramos em máquinas no supermercado. Na Rússia também tem. Cheguei no mercado com uma moeda de 50 rublos pedindo para o rapaz do caixa trocar. Só Deus sabe o que ele falou, pois foi tanta coisa e num tom tão ríspido. As pessoas da fila começaram a se agitar e responder ao rapaz do caixa e eu e o Dani só olhando sem entender. Por fim, um senhor da fila, claramente bravo, me entregou uma moeda e ficou apontando para mim e para a máquina, me mandando pegar logo a bolinha. Que bizarro! É certo que rolou um stress e uma briguinha na fila, mas até agora não sabemos o porquê. Pegamos a bolinha, nossa moeda que não foi trocada e fomos embora rsrsrs.

Alugamos um apartamento em São Petersburgo para descansar por uns dias e fui perguntar para a dona (em inglês) se era seguro andar na vizinhança à noite, ao que ela me respondeu que tinham duas latas de lixo no fundo do prédio. Até hoje não sei como ela entendeu que eu perguntava sobre o lixo, mas foi uma informação até que útil rsrsrs.

A língua não nos favorecia, os russos (com poucas exceções) não falam nada em inglês, mas mesmo assim o Cris cismou que queria fazer um strogonoff nos dias que ficamos em São Petersburgo. Quem disse que ele conseguia identificar o que era creme de leite no mercado? Apesar dos russos serem muito gentis e com boa vontade, não achávamos ninguém que conseguisse entender o que precisávamos e mesmo gastando todo o nosso repertório de mímicas, voltamos para casa sem o creme de leite rsrsrs.  Pelo menos essas situações rendiam boas risadas depois.

Conseguimos descobrir o creme de leite através de um grupo do Facebook de brasileiros na Rússia, agora era a hora de comprar o peito de frango. Vimos no mercado algo que parecia frango, mas queríamos nos certificar. Essa foi a melhor mímica de todas. Chamamos uma funcionária do mercado, e eu estava prestes a tentar explicar o que queríamos quando o Cris me interrompeu, com um ar de que sabia o que estava fazendo. Nessa hora, ele mostrou para a funcionária a bandeja com o suposto frango e começou a imitar uma galinha, com som e tudo o mais. Que vergonha kkkkkk. Bom, funcionou. Acabamos descobrindo que aquilo era peru.

Eu tinha pensado que esse episódio seria insuperável, até que alugamos um novo apartamento e percebemos que não tinha papel higiênico no banheiro. Como o dono só falava russo, o Cris não pensou duas vezes: fez uma mímica de alguém limpando o bumbum. Mais uma vez problema resolvido rsrsrs. Diz o Cris que depois da Rússia ficaremos invencíveis jogando Imagem e Ação, não vai ter para ninguém kkkkkk.

Tivemos que nos desprender de toda vergonha e partir para a comunicação por gestos para garantir nossa sobrevivência no local, mas a verdade é que eu achava o máximo esses momentos.  Descobrimos que de uma forma ou de outra o ser humano sempre dá um jeito de se entender!

Natany Gomes 

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