Muitos costumam dizer que quando não planejamos é que acontecem as melhores experiências e para mim existe uma certa dose de verdade nessa afirmação. Já aconteceu diversas vezes de estarmos apenas de passagem por uma cidade, entrarmos só para dar uma olhadinha ou para almoçar e nos encantarmos pelo lugar e acabarmos ficando mais dias.
Bem no começo da viagem conhecemos um casal já de idade que estava viajando pelo mundo a algum tempo. A senhora me disse que nunca pesquisava na internet sobre os lugares para onde estava indo, ela simplesmente ia e descobria o que fazer no lugar. Dessa forma, não perdia a magia e surpresa que a aguardava em cada cidade.
Me parece uma ideia bem interessante, já que hoje em dia pesquisamos tanta coisa na internet antes de viajar que quando chegamos ao nosso destino não existe qualquer excitação ou novidade, inclusive parece que já estivemos ali antes. O elemento surpresa se perde e, com ele uma parte do encanto.
Apesar de fazer sentido, viajar sem planejamento tem seus riscos, entre eles a chance de deixar de visitar um destino imperdível que está pertinho de você, só porque simplesmente não sabia sobre ele, e o risco de gastar mais dinheiro do que o necessário. Só para se ter uma ideia, quando estava preparando o roteiro para a Noruega descobri que os principais museus de Oslo têm entrada gratuita nas quintas-feiras. Não saberia disso sem pesquisar e acabaria indo visitar em qualquer dia da semana e pagando entrada.
Por essas razões, gosto sempre de planejar o que faremos em cada lugar por onde passamos. Otimizar recursos é muito importante para estender a nossa viagem e escolher os lugares que mais queremos conhecer também, pois não sabemos quando teremos (e se teremos) oportunidade de voltar no futuro.
Mas, mesmo planejando, nem sempre tudo sai como gostaríamos. Existem variáveis que não conseguimos controlar e a que tem sido mais implacável com a gente é a condição climática. Você se planeja, define os lugares por onde vai passar, onde ficará, quantos dias gastará e quando chega no lugar a chuva não permite que você faça nada.
Passamos por isso a primeira vez no Parque Torres del Paine. Estávamos muito ansiosos para visita-lo com o Dani e quase todos os dias que ficamos por lá foram de chuva e tempo nublado. Quando abria um solzinho, largávamos tudo que estávamos fazendo e íamos passear pelo parque para tentar aproveitar pelo menos um pouco.
Nossa segunda experiência veio em outro lugar que queríamos muito conhecer: a Noruega. Já percebemos que quanto mais queremos conhecer um lugar, mais o clima não nos ajuda (Lei de Murphy pura rsrs).
Decidimos ir para a Noruega no verão para não termos grandes problemas com o tempo, mas, para a nossa surpresa, pegamos um ano de verão muito atípico. Nossa primeira semana no país choveu todos os dias praticamente 24 horas. A temperatura não passava de 10 graus e quando parava um pouco de chover quase sempre o tempo ficava muito nublado. As principais trilhas fecharam por conta do mau tempo e risco de acidentes e nossa barraca não estava suportando tanta chuva e começou a molhar por dentro.
Depois de 3 dias direto de chuva na barraca, não aguentamos e fomos para um Airbnb para ficar secos, quentinhos e comer. Tem outra coisa para fazer quando se está chovendo e não dá para ir a lugar nenhum?
Aproveitamos para assistir filmes e descansar por alguns dias. Não foi ruim, mas não foi para isso que fomos para a Noruega, o país mais caro de toda a Europa (onde pagamos quase 6 reais o litro do diesel, 140 reais na diária de campings e 15 reais numa barra simples de chocolate). Queríamos explorar os fiordes, fazer trilhas famosas e que sempre admiramos por fotos. E lá estávamos nós ou confinados dentro de uma barraca sem absolutamente nada para fazer ou dentro de uma casa, comendo e assistindo televisão.
Ficamos ao todo 14 dias na Noruega, mas fomos embora com aquela sensação de missão não cumprida, de que estava faltando algo. Podemos dizer que fizemos milagre com as poucas horas de tempo firme e sem chuva: fizemos duas das três trilhas mais famosas do país, visitamos um fiorde com sol, conseguimos passar pela Atlantic Ocean Road num lindo por do sol e fazer a Snow Road com tempo realtivamente bom também. Não conseguimos fazer tudo o que tínhamos planejado e isso foi muito frustrante, mas precisamos aprender a lidar com essas frustrações diariamente na viagem. Não dá para ganhar todas!
Natany Gomes
