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Causos da Estrada

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Quando estamos fora de casa não dá para ser tão exigente com a qualidade da comida ou com alguns critérios de higiene, principalmente quando se está passando por lugares muito pobres e com pouco infraestrutura, como muitas cidades do Peru. É entregar nas mãos de Deus, procurar escolher a opção menos pior e torcer para não ter uma infecção intestinal.

Nos dias que estamos viajando de uma cidade para outra, muitas vezes é difícil encontrar algum lugar adequado para parar na estrada e preparar nossa própria comida. Em muitos casos, optamos por fazer um lanche simples e comer melhor a noite quando chegamos ao nosso destino.

No Peru, então, é quase impossível encontrar um lugar na estrada para cozinhar, por duas razões principais: 1) Praticamente não existem áreas de parada no caminho e; 2) Os poucos lugares que seria possível parar estão repletos de lixo. 

Estamos viajando pelo litoral peruano e nunca tínhamos vimos uma situação assim, a Panamericana é tomada por montanhas de lixos para todos os lados. Num dos dias de estrada, vimos uma cena que nos chocou bastante: tinha um rebanho grande de ovelhas (mais ou menos, 100) pastando numa área verde muito bonita, mais cheia de lixo. A cena merecia uma foto, mas não tinha acostamento no local e passamos apenas olhando e contemplando com tristeza.

E parece que o povo não se importa muito com essa situação, não. Perdemos as contas de quantas vezes vimos o carro da frente na estrada abrir o vidro e arremessar todo tipo de lixo pela janela. É uma pena, pois o Peru tem paisagens incríveis, o litoral peruano é muito bonito, mas está sendo destruído pouco a pouco.

Enfim, voltemos para a questão da comida. Embora higiene não seja o forte do Peru, o preço da comida é muito barato. Só para se ter uma ideia, almoçamos num restaurante esses dias com entrada, suco, prato principal e sobremesa por apenas 14,90 reais. Nos restaurantes simples de estrada esse preço cai para 8 a 10 reais.

Relutamos muito para não comer em qualquer lugar, com medo de passar mal, mas um certo dia de viagem, já cansados de comer lanche e sem encontrar um lugar adequado para fazer o almoço, optamos por comer em um restaurante na beira da estrada. Encontramos um bem indicado por outros viajantes no IOverlanders e nos aventuramos.

Pensa num ambiente estranho, com aparência de sujeira. Mas os restaurantes vizinhos tinham uma aparência muito pior e a próxima cidade ficava muito longe, então resolvemos ficar ali mesmo e arriscar. Era isso ou comer pão com queijo de novo.

A comida estava muito gostosa, é verdade. E veio comida para alimentar uma multidão, mas tanto no meu prato como no do Cris tinha cabelo, de tamanhos diferentes rs. Quais as chances de isso acontecer duas vezes na mesma mesa? Enfim, já não tivemos um almoço lá muito bom, imaginando coisas que não vimos e que se passaram nos bastidores, mas seguimos viagem torcendo para ninguém passar mal. Nesse mesmo dia a noite tivemos uma nova e inesperada experiência gastronômica rs.

Paramos para dormir à beira da estrada, no quintal de um hostal. Fizemos amizade com a dona, que era muito simpática e acolhedora. Ela gostou tanto de nós que nos convidou para jantar e insistiu muito para nos preparar uma comida. Nós tentamos recusar, pois ainda estávamos estranhos do almoço, mas não teve jeito, ela fazia questão.

Ficamos na porta da cozinha conversando com ela enquanto preparava a comida: iscas de peixe empanadas e batatas fritas. Seu processo de tempero do peixe nos deixou perplexos: ela passava o dedo na boca, passava no sal e passava no peixe. Esse processo foi repetido por umas 5 vezes, sem o menor constrangimento de estarmos olhando, como se fosse a forma mais natural de se temperar um peixe. E, não é????  

Não tivemos muita escolha aquela noite, tivemos que comer o peixe temperado com saliva e sal. Eu comi uns poucos pedaços e deixei o Dani, que não tinha visto nada, comer quase tudo. A ignorância realmente é a base da felicidade e o que os olhos não veem o estômago não sente rs.

Foi a primeira vez, desde que começamos a viagem, que alguém nos convidou para entrar em sua casa e nos preparou com todo carinho algo para comer. Simplesmente não tínhamos como rejeitar, mas foi uma situação bem complicada. Nunca nos esqueceremos do dia em que saliva virou tempero (e nem era a nossa rs)!

Natany Gomes

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